Meu bem,
O dia está chegando ao fim. Mais um sem você, mais um nesses longos e intermináveis 2 meses...
Eu queria te contar só coisas boas, mas meu coração está em pedaços... eu mal consigo respirar...
Pela primeira vez levei e entrei com Júlia na piscina. Ela amou! Se divertiu como nunca, sem medo algum, como você já sabe. Ficou tão agitada, que não conseguiu dormir à tarde, a água tem sobre ela esse efeito. Por isso, passou o dia ardida, aprontando todas e me desafiando. Segurei-me muitas vezes para não dar-lhe umas palmadas. Minha cabeça a mil, tendo que tomar decisões sérias sobre nosso futuro, programar a viagem de volta para casa de amanhã pela madrugada, morrendo de saudades de você, louca por dividir contigo minhas dúvidas, meu medos e ouvir você me dizer: é melhor assim, não faça desse jeito... não teve jeito, perdi a paciência e dei 2 palmadas na nossa filha que chorou sentida. Antes de terminar, eu já estava arrependida. Ela só estava cansada, querendo dormir... mas eu também estou, exausta, destruída, sem vontade de viver o futuro, não sem você...
Mantive-me firme enquanto preparava a mamadeira e Júlia me olhava com os olhinhos cheios de lágrimas... mas enquanto ela mamava, desabei no choro mais doído e incontrolável de que me recordo. Pedi desculpas a ela, implorei para que Deus não me permita ser impaciente, rancorosa ou amarga. Que eu seja luz para os nossos filhos, que eu seja amor, vida e esperança por onde passar. Que eu consiga amar por nós dois e que meus dias sejam para fazer apenas o bem.
terça-feira, 29 de novembro de 2016
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
Meu bem,
Hoje seria para mim um dia de muita alegria!
Hoje seria para mim um dia de muita alegria!
Todos que me conhecem sabem que eu amava lecionar, amava o meu trabalho, amava os meus alunos. Mas existia em mim um amor maior, mais intenso regado por muitos sonhos e seu incentivo: construir uma família do feliz, de valores e princípios, daquelas que são capazes de mudar o mundo a sua volta, de inspirar os outros para o bem...
Por isso, eu e você havíamos decidido, juntos, que ao final deste semestre eu iria me afastar do trabalho por 2 anos em média para cuidar da nossa família, dos nossos filhos, dele, de mim, ter tempo para nós... eu estava ansiosa, sabia que haveria momentos de saudades da sala de aula, sabia que me arrependeria por alguns segundos, mas que era o nosso sonho se realizando...
Então, hoje seria minha despedida temporária do trabalho e o mergulho na minha família! Eu ia viver meu sonho por inteiro! Dedicar-me às pessoas que mais amava! Ia curtir os últimos meses da Júlia antes dela ir para a escola, ia curtir meus últimos meses de gestação com toda atenção e cuidado que uma grávida merece... eu ia ser paparicada por você, ainda mais do que era normalmente, eu ia me preparar psicologicamente para o furacão que acompanha a chegada de um bebê... nós íamos viajar para uma praia tranquila, íamos descansar antes do furacão chegar! Nós íamos... ficou tudo pela metade!
Agora, estou eu aqui. Lutando para acreditar que vou conseguir sobreviver... lutando para acreditar em alma, destino, Deus... lutando para amar meus filhos (sim! Eu tenho medo que eles também deixem de ser importantes para mim assim como a vida deixou de ser) e nunca, jamais perder a paciência de ensinar o amor, carinho, respeito e solidariedade a eles; lutando para manter-me firme, lutando para não chorar... lutando para não me tornar amarga, fria, sem emoção...
O que era sonho se transformou em dor...
Sei que você entende toda a minha dor, porque também nos perdeu.... Você sabe que não há consolo, só vazio, dor e saudade!
Minha vida hoje é um exemplo de tudo que poderia ter sido e não foi...
Tenho recebido muito carinho e consolo de amigos, colegarce até desconhecidos. Gostaria de agradecer a pelas palavras de carinho, por se preocuparem comigo e entender que o sofrimento é inevitável; mas queria agradecer especialmente àqueles que não me pedem força,, nem dizem que Deus sabe o que faz ou que há um propósito/bem maior por trás disso tudo... ouvir isso dói e não resolve nada...
Hoje, prefiro um abraço sincero e o silêncio de quem realmente entende e compartilha verdadeiramente da minha dor.
sábado, 26 de novembro de 2016
Meu bem,
Tenho tantas coisas para te contar! Tantas! Algumas tristezas, algumas decepções...
Mas hoje resolvi só te contar coisas boas!
Júlia aprendeu a falar "abrir", e muitas outras palavras, mas a minha preferida é quando ela diz "nãããão", ela faz uma carinha de sapeca, de quem sabe o o que está fazendo... Confesso que ofereço a ela várias vezes algo que sei que ela não gosta apenas para ouvi-la e ver sua expressão sapeca.
Ela também já se senta à mesa conosco para fazer as refeições. Porta-se como uma mocinha e voltou a comer muito bem. Ela, inclusive, já come com as próprias mãos e quer tomar água apenas em copo de vidro sozinha, não aceita que a ajudemos. Claro que essa mania causa alguns alagamentos pela casa e muitas trocas de roupa durante o dia. Por falar nisso, ela é levada demais! Desconfio que você já sabe dessa parte...
Ela está cada dia mais parecida com você, não só fisicamente, mas também nos gostos. Ama experimentar as comidas mais exóticas e já sabe imitar o som da Harley... Recentemente, começou a enjoar durante as viagens, lembra quando comentávamos que era provável que nossos filhos passassem mal, assim como você? Você sorria e dizia: "coitadinhos, não será fácil..."
O céu está azul, o calor de Minas avisa que o verão chegou de vez! Júlia dorme apenas de fraldinha aqui ao meu lado, mas muito em breve ela deixará de usá-las. Ela já fala xixi e cocô e quase pula tirando os 2 pezinhos do chão. Você sabe o que isso significa, não é mesmo?
Nosso pequeno está muito bem. Ontem ouvi as batidas do coraçãozinho relembrei-me da primeira visita ao obstetra depois do teste de farmácia acusar positivo. Ele se mexe muito, como quem avisa que será espoleta, talvez mais que a Juju. Eu também estou bem, engordei apenas 5 kg, acho que todos eles na barriga, porque ela está enorme! Você ia gostar de passear comigo, lembra como você queria que minha barriga crescesse logo?
Daqui a pouco estamos indo para aquele lugar onde o sol racha sempre! Mas em breve voltaremos para Telêmaco, onde as lembranças machucam e consolam... lá ainda é nosso lar, será para sempre!
Desconfio que você não precise ler tudo isso para saber o que se passa conosco, mas escrevo para registrar, para que minhas memórias nunca se percam e que nossos filhos conheçam o amor mais verdadeiro que alguém pode sentir.
Te amo além da vida! De todas as vidas!
Tenho tantas coisas para te contar! Tantas! Algumas tristezas, algumas decepções...
Mas hoje resolvi só te contar coisas boas!
Júlia aprendeu a falar "abrir", e muitas outras palavras, mas a minha preferida é quando ela diz "nãããão", ela faz uma carinha de sapeca, de quem sabe o o que está fazendo... Confesso que ofereço a ela várias vezes algo que sei que ela não gosta apenas para ouvi-la e ver sua expressão sapeca.
Ela também já se senta à mesa conosco para fazer as refeições. Porta-se como uma mocinha e voltou a comer muito bem. Ela, inclusive, já come com as próprias mãos e quer tomar água apenas em copo de vidro sozinha, não aceita que a ajudemos. Claro que essa mania causa alguns alagamentos pela casa e muitas trocas de roupa durante o dia. Por falar nisso, ela é levada demais! Desconfio que você já sabe dessa parte...
Ela está cada dia mais parecida com você, não só fisicamente, mas também nos gostos. Ama experimentar as comidas mais exóticas e já sabe imitar o som da Harley... Recentemente, começou a enjoar durante as viagens, lembra quando comentávamos que era provável que nossos filhos passassem mal, assim como você? Você sorria e dizia: "coitadinhos, não será fácil..."
O céu está azul, o calor de Minas avisa que o verão chegou de vez! Júlia dorme apenas de fraldinha aqui ao meu lado, mas muito em breve ela deixará de usá-las. Ela já fala xixi e cocô e quase pula tirando os 2 pezinhos do chão. Você sabe o que isso significa, não é mesmo?
Nosso pequeno está muito bem. Ontem ouvi as batidas do coraçãozinho relembrei-me da primeira visita ao obstetra depois do teste de farmácia acusar positivo. Ele se mexe muito, como quem avisa que será espoleta, talvez mais que a Juju. Eu também estou bem, engordei apenas 5 kg, acho que todos eles na barriga, porque ela está enorme! Você ia gostar de passear comigo, lembra como você queria que minha barriga crescesse logo?
Daqui a pouco estamos indo para aquele lugar onde o sol racha sempre! Mas em breve voltaremos para Telêmaco, onde as lembranças machucam e consolam... lá ainda é nosso lar, será para sempre!
Desconfio que você não precise ler tudo isso para saber o que se passa conosco, mas escrevo para registrar, para que minhas memórias nunca se percam e que nossos filhos conheçam o amor mais verdadeiro que alguém pode sentir.
Te amo além da vida! De todas as vidas!
sexta-feira, 25 de novembro de 2016
O sono não vem. Enquanto penso na nossa história, penso em como tudo parece um filme, nada disso é real. Parece que estou lendo a história de outra pessoa... meu Deus! Não posso acreditar, nem que eu me esforce muito... o brilho dos teus olhos é ainda tão forte! Vejo você chegar em casa, ouço o barulho do carro, consigo sentir seu cheiro... estou tão perdida! Tão sozinha! Tão descrente...
Não sei o que é pior: acreditar que existe um espírito que tudo vê depois que deixa o corpo, acreditar que existe um espírito que fica adormecido até o juízo final ou acreditar que a morte é o fim, que tudo acaba, que não há alma, nem Deus...
Cada uma dessas teorias traz consigo um dor... experimento todas elas muitas vezes durante o dia. Penso, repenso, reflito, me explico, me decido, questiono, volto ao início...
A verdade é que de qualquer forma você não vai voltar. Não vai segurar a minha mão quando eu sentir medo, não vai me acompanhar nas consultas do pré-natal , não vai entrar comigo na sala de parto, não vai passar comigo as noites de cólica em claro... não vamos mais ter o nosso terceiro filho...não vai me ajudar a resolver onde morar, não vai decidir em qual escola Júlia vai estudar, não vai viajar comigo de férias... não vai ouvir minhas súplicas, desabafos, histórias nem se orgulhar comigo das conquistas dos nossos filhos ou dividir comigo as dores e decepções que eles por ventura vierem nos causar...
Estou tão cansada dessa dor, a saudade só aumenta... preciso dormir e sonhar com você.
Não sei o que é pior: acreditar que existe um espírito que tudo vê depois que deixa o corpo, acreditar que existe um espírito que fica adormecido até o juízo final ou acreditar que a morte é o fim, que tudo acaba, que não há alma, nem Deus...
Cada uma dessas teorias traz consigo um dor... experimento todas elas muitas vezes durante o dia. Penso, repenso, reflito, me explico, me decido, questiono, volto ao início...
A verdade é que de qualquer forma você não vai voltar. Não vai segurar a minha mão quando eu sentir medo, não vai me acompanhar nas consultas do pré-natal , não vai entrar comigo na sala de parto, não vai passar comigo as noites de cólica em claro... não vamos mais ter o nosso terceiro filho...não vai me ajudar a resolver onde morar, não vai decidir em qual escola Júlia vai estudar, não vai viajar comigo de férias... não vai ouvir minhas súplicas, desabafos, histórias nem se orgulhar comigo das conquistas dos nossos filhos ou dividir comigo as dores e decepções que eles por ventura vierem nos causar...
Estou tão cansada dessa dor, a saudade só aumenta... preciso dormir e sonhar com você.
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
São 14h e 29 minutos do dia 19 de outubro, faz 11 dias que você partiu...
Já me disseram inúmeras vezes que o tempo ia curar as feridas e transformar em saudade essa dor que beira à loucura...
A verdade é que hoje a dor bateu mais forte. Depois de dormir agarrada em seu moletom e guardá-lo cuidadosamente para que ninguém o colocasse para lavar por engano, pensei que estivesse mais forte...
Deixei a Juju dormindo e fui tomar banho para ir fazer o exame demissional na faculdade. Doeu saber que mesmo neste momento, não houve nenhuma manifestaçãob de solidariedade por parte deles que aceitaram meu pedido de demissão prontamente por e-mail mesmo. Mas doeu muito mais não poder dividir isso com você e ouvir seus conselhos que sempre me mostravam o caminho certo. Segurei o choro dezenas de vezes enquanto empurrava o café goela abaixo pensando única e exclusivamente na saúde do nosso pequeno Bruno. Sim! Nosso filho terá o seu nome, não haveria melhor escolha e meu coração nunca bateu tão forte de certeza quando o escolhi. Ele será um grande homem como você!
Volto meu olhar para a Júlia que já havia acordado quando eu saia do banheiro. Eu ainda enrolada na toalha, precisei abraçá-la forte e tirar forças do fundo da alma para sorrir e dizer bom dia. Não há nada mais custoso do que sorrir ou responder às pessoas que nos cumprimentam com um "tudo bem" ou " como você está". Tenho vontade de gritar: meu coração está destruído, não quero sorrir, viver oi falar. Mas engulo seco e esboço um leve sorriso com os olhos marejados de lágrimas... as mesmas lágrimas que seguro enquanto olho Júlia tomando seu café da manhã sozinha. Você não está aqui para sentir orgulho e não consigo sentir na mesma proporção de antes já que nada sem você tem graça. Não quero chorar perto dela ou de minha mãe que começou cedo a preparar minha comida favorita, frango com quiabo. Ela está se esforçando para me ajudar e me ver bem, mas eu sei que sofre calada. Eles estão aqui há 10 dias e amanhã vão embora; não quero que partam pensando que eu estou mal. Mas eu estou, tenho medo. Gostaria que alguém segurasse a minha mão como você fazia.
Olho para o relógio do microondas e vejo que não tenho mais muito tempo, tiro a Júlia do cadeirão e corro para trocá-la.
Meu braço dói um pouco, mas não consigo delegar essas funções para outra pessoa.
Júlia está muito agarrada comigo, tem medo de me perder. E eu sei que ela está sofrendo a sua ausência assim como eu. Fecho os olhos e vejo você chegando em casa, antes da hora, nos pegando de surpresa e nos enchendo de alegria, vejo Júlia se inclinando para trás e fechando os olhos (como eu fazia) para ganhar um beijo seu. Sorríamos...
Meus pensamentos são interrompidos pela Mari que chega para me levar à clínica. Não posso dirigir, preciso de ajuda para tudo, ela e a Tati têm se mostrado muito solidárias e dedicado parte de suas vidas para nos ajudar.
Tento sair de casa, mas Júlia não permite se desgrudar de mim. Tenho dó e a levo comigo.
No caminho, ficamos paradas na rodovia por 15 minutos por conta da construção da 3a faixa...
Olho pela janela e nos vejo passando de carro inúmeras vezes naquele trajeto. Quantas vezes atrás de caminhões comentávamos como seria bom depois de acabada a obra. Respiro fundo e seguro o choro novamente. Nós nunca pensamos em sair daqui, tínhamos certeza de que ficaríamos velhinhos e caminharíamos toda tarde contemplando o pôr do sol... nessa hora tenho certeza que minha dor não diminui, só aumenta com o tempo. Suspiro fundo e sinto um pontada no peito, respirar sem você dói.
Na clínica, à espera do exame, Júlia se agarra ao meu colo. Estou fraca, respiração ofegante e sinto muito calor. Imagino que você estaria comigo brincando com a Júlia na rua enquanto eu aguardo na recepção... de repente me percorre um frio na espinha: e se me perguntarem a situação civil? Não quero chorar na frente de estranhos, rezo para que não tenha esse campo na ficha médica.
Júlia está inquieta, penso como será difícil quando Bruno nascer.
Eu envelheci 20 anos nesse últimos dias, estou visivelmente mais magra apesar de grávida.
Vejo nossa filha brincado de esconder o rosto com um estranho que também aguarda atendimento e penso no como ela sente sua falta. Dói pensar que você também sente a nossa falta...
A médica me examina enquanto Júlia grita de medo relembrando os últimos acontecimentos no hospital. Ela tem medo que alguém me machuque...
Voltamos para casa e no caminho para o carro Júlia vai caminhando e segurando a minha mão como sempre sonhei que faríamos em família.
Ela só tem 1 ano e 7 meses mas parece uma moça. Ela também amadureceu com os últimos acontecimentos.
Mais uma vez seguro o choro e suspiro...
Em casa, o cheiro de comida da mãe é bom, mas não tenho fome. Você também gostava desse prato e não há graça não poder dividir com você.
Mais uma vez tiro forças e preparo o prato da Júlia enquanto Mari e Murilo sentam à mesa com meus pais. Eles são bons amigo e fazem questão de estar por perto.
Hoje faz muito calor e Júlia está molhada de suor, mas come...
As pessoas conversam sobre coisas banais e meu pensamento voa para você. Engulo a comida sem sentir o gosto enquanto Júlia corre lá fora com a Babi.
Ao me ver, ela pede colo e balbucia um mamãe cheio de amor. Está muito quente, me despeço da Mari e peço para minha mãe preparar a água do banho da Ju. Ela não quer me largar, mas é tirada a força de meus braços para tomar banho. Meu coração corta só vê-la e ouvi-la chorar baixinho e sentida. Tento acalmá-lá e me sinto culpada por não poder dar banho em nossa filha. Sinto vontade de mergulhar o gesso na água e abraçá-la. Ainda em prantos ela sai do banho e se agarra a mim, soluçando. Nessa hora, percebo que nossa filha sofre muito pela sua partida. Começo a perceber que ela muitas vezes tampa os ouvidos com a mãos e sacode a cabeça várias vezes como eu faço quando bate o desespero ao lembrar do acidente. Abraço-a fortemente e digo que jamais lhe deixarei, mas não sei se poderei cumprir tal promessa. Você já me prometeu isso algumas vezes...
Apenas coloco a fralda e a levo para nossa cama, ela me abraça com toda a força de seus bracinhos e soluça baixinho. Canto com ela a música da estrelinha, pensando em você.
Ela olha para o teto como se conseguisse te ver. Eu mostro para ela sua foto e repito que nós a amamos muito e que você está no nosso coração, toco com o dedo em seu coração enquanto digo: papai está no coração.
Ela dorme suspirando e soluçando...
Eu penso se ela pode te ver, e posso jurar que sim.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto, meu bem. Não tenho forças enquanto ela dorme, vejo sua foto sorrindo e me pergunto por que isso aconteceu conosco?
Queria te ver, poder falar como você. Te imploro que se houver um jeito, fale comigo, me diga o que fazer ou o porquê disso ter acontecido. Há um propósito ou foi mero acaso? Preciso acreditar que não, mas preciso de ajuda. Só você pode me ajudar...
Já me disseram inúmeras vezes que o tempo ia curar as feridas e transformar em saudade essa dor que beira à loucura...
A verdade é que hoje a dor bateu mais forte. Depois de dormir agarrada em seu moletom e guardá-lo cuidadosamente para que ninguém o colocasse para lavar por engano, pensei que estivesse mais forte...
Deixei a Juju dormindo e fui tomar banho para ir fazer o exame demissional na faculdade. Doeu saber que mesmo neste momento, não houve nenhuma manifestaçãob de solidariedade por parte deles que aceitaram meu pedido de demissão prontamente por e-mail mesmo. Mas doeu muito mais não poder dividir isso com você e ouvir seus conselhos que sempre me mostravam o caminho certo. Segurei o choro dezenas de vezes enquanto empurrava o café goela abaixo pensando única e exclusivamente na saúde do nosso pequeno Bruno. Sim! Nosso filho terá o seu nome, não haveria melhor escolha e meu coração nunca bateu tão forte de certeza quando o escolhi. Ele será um grande homem como você!
Volto meu olhar para a Júlia que já havia acordado quando eu saia do banheiro. Eu ainda enrolada na toalha, precisei abraçá-la forte e tirar forças do fundo da alma para sorrir e dizer bom dia. Não há nada mais custoso do que sorrir ou responder às pessoas que nos cumprimentam com um "tudo bem" ou " como você está". Tenho vontade de gritar: meu coração está destruído, não quero sorrir, viver oi falar. Mas engulo seco e esboço um leve sorriso com os olhos marejados de lágrimas... as mesmas lágrimas que seguro enquanto olho Júlia tomando seu café da manhã sozinha. Você não está aqui para sentir orgulho e não consigo sentir na mesma proporção de antes já que nada sem você tem graça. Não quero chorar perto dela ou de minha mãe que começou cedo a preparar minha comida favorita, frango com quiabo. Ela está se esforçando para me ajudar e me ver bem, mas eu sei que sofre calada. Eles estão aqui há 10 dias e amanhã vão embora; não quero que partam pensando que eu estou mal. Mas eu estou, tenho medo. Gostaria que alguém segurasse a minha mão como você fazia.
Olho para o relógio do microondas e vejo que não tenho mais muito tempo, tiro a Júlia do cadeirão e corro para trocá-la.
Meu braço dói um pouco, mas não consigo delegar essas funções para outra pessoa.
Júlia está muito agarrada comigo, tem medo de me perder. E eu sei que ela está sofrendo a sua ausência assim como eu. Fecho os olhos e vejo você chegando em casa, antes da hora, nos pegando de surpresa e nos enchendo de alegria, vejo Júlia se inclinando para trás e fechando os olhos (como eu fazia) para ganhar um beijo seu. Sorríamos...
Meus pensamentos são interrompidos pela Mari que chega para me levar à clínica. Não posso dirigir, preciso de ajuda para tudo, ela e a Tati têm se mostrado muito solidárias e dedicado parte de suas vidas para nos ajudar.
Tento sair de casa, mas Júlia não permite se desgrudar de mim. Tenho dó e a levo comigo.
No caminho, ficamos paradas na rodovia por 15 minutos por conta da construção da 3a faixa...
Olho pela janela e nos vejo passando de carro inúmeras vezes naquele trajeto. Quantas vezes atrás de caminhões comentávamos como seria bom depois de acabada a obra. Respiro fundo e seguro o choro novamente. Nós nunca pensamos em sair daqui, tínhamos certeza de que ficaríamos velhinhos e caminharíamos toda tarde contemplando o pôr do sol... nessa hora tenho certeza que minha dor não diminui, só aumenta com o tempo. Suspiro fundo e sinto um pontada no peito, respirar sem você dói.
Na clínica, à espera do exame, Júlia se agarra ao meu colo. Estou fraca, respiração ofegante e sinto muito calor. Imagino que você estaria comigo brincando com a Júlia na rua enquanto eu aguardo na recepção... de repente me percorre um frio na espinha: e se me perguntarem a situação civil? Não quero chorar na frente de estranhos, rezo para que não tenha esse campo na ficha médica.
Júlia está inquieta, penso como será difícil quando Bruno nascer.
Eu envelheci 20 anos nesse últimos dias, estou visivelmente mais magra apesar de grávida.
Vejo nossa filha brincado de esconder o rosto com um estranho que também aguarda atendimento e penso no como ela sente sua falta. Dói pensar que você também sente a nossa falta...
A médica me examina enquanto Júlia grita de medo relembrando os últimos acontecimentos no hospital. Ela tem medo que alguém me machuque...
Voltamos para casa e no caminho para o carro Júlia vai caminhando e segurando a minha mão como sempre sonhei que faríamos em família.
Ela só tem 1 ano e 7 meses mas parece uma moça. Ela também amadureceu com os últimos acontecimentos.
Mais uma vez seguro o choro e suspiro...
Em casa, o cheiro de comida da mãe é bom, mas não tenho fome. Você também gostava desse prato e não há graça não poder dividir com você.
Mais uma vez tiro forças e preparo o prato da Júlia enquanto Mari e Murilo sentam à mesa com meus pais. Eles são bons amigo e fazem questão de estar por perto.
Hoje faz muito calor e Júlia está molhada de suor, mas come...
As pessoas conversam sobre coisas banais e meu pensamento voa para você. Engulo a comida sem sentir o gosto enquanto Júlia corre lá fora com a Babi.
Ao me ver, ela pede colo e balbucia um mamãe cheio de amor. Está muito quente, me despeço da Mari e peço para minha mãe preparar a água do banho da Ju. Ela não quer me largar, mas é tirada a força de meus braços para tomar banho. Meu coração corta só vê-la e ouvi-la chorar baixinho e sentida. Tento acalmá-lá e me sinto culpada por não poder dar banho em nossa filha. Sinto vontade de mergulhar o gesso na água e abraçá-la. Ainda em prantos ela sai do banho e se agarra a mim, soluçando. Nessa hora, percebo que nossa filha sofre muito pela sua partida. Começo a perceber que ela muitas vezes tampa os ouvidos com a mãos e sacode a cabeça várias vezes como eu faço quando bate o desespero ao lembrar do acidente. Abraço-a fortemente e digo que jamais lhe deixarei, mas não sei se poderei cumprir tal promessa. Você já me prometeu isso algumas vezes...
Apenas coloco a fralda e a levo para nossa cama, ela me abraça com toda a força de seus bracinhos e soluça baixinho. Canto com ela a música da estrelinha, pensando em você.
Ela olha para o teto como se conseguisse te ver. Eu mostro para ela sua foto e repito que nós a amamos muito e que você está no nosso coração, toco com o dedo em seu coração enquanto digo: papai está no coração.
Ela dorme suspirando e soluçando...
Eu penso se ela pode te ver, e posso jurar que sim.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto, meu bem. Não tenho forças enquanto ela dorme, vejo sua foto sorrindo e me pergunto por que isso aconteceu conosco?
Queria te ver, poder falar como você. Te imploro que se houver um jeito, fale comigo, me diga o que fazer ou o porquê disso ter acontecido. Há um propósito ou foi mero acaso? Preciso acreditar que não, mas preciso de ajuda. Só você pode me ajudar...
Senti sua presença muito forte essa noite. Enquanto eu cantava a música da estrelinha, que acabou ficando a nossa música, com a Júlia, e conversávamos com você, ela buscou seu moletom que deixei estendido do seu lado da cama para abraçar quando a saudade batesse forte. Ele é uma das poucas peças que ficaram com seu cheiro...
Nossa pequena entregou-me a peça, colocando-a bem próxima ao meu rosto, em seguida, também se abraçou a ela e dormimos agarradinhos como se o tempo tivesse voltado.
Obrigada por essa demonstração de amor, carinho e cuidado. Você nos faz muita falta, mas não sai do nosso lado! Preciso encarar mais um amanhecer sem você, mas ainda sinto todo o peso do mundo nas minhas costas... dói demais pensar que você se foi tão jovem... prefiro continuar fingindo que você vai voltar...
Eu te amo além dessa vida, de todas as vidas ❤️ vou te reencontrar 🙏🏻
Texto escrito no dia 19/10
Nossa pequena entregou-me a peça, colocando-a bem próxima ao meu rosto, em seguida, também se abraçou a ela e dormimos agarradinhos como se o tempo tivesse voltado.
Obrigada por essa demonstração de amor, carinho e cuidado. Você nos faz muita falta, mas não sai do nosso lado! Preciso encarar mais um amanhecer sem você, mas ainda sinto todo o peso do mundo nas minhas costas... dói demais pensar que você se foi tão jovem... prefiro continuar fingindo que você vai voltar...
Eu te amo além dessa vida, de todas as vidas ❤️ vou te reencontrar 🙏🏻
Texto escrito no dia 19/10
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
Hoje faz 10 dias que acordo sem você ao meu lado...
A sensação é sempre a mesma, a princípio meu coração pára por alguns segundo tentando absorver mais uma vez a realidade... é confuso. Demoro para acreditar que você não está no banho ou preparando a mamadeira da Júlia. Percebo que estou sozinha, nossa filha resmunga ao meu lado... sei que ela está com fome, vai acordar em breve. Lembro-me claramente de você me falando: - o segredo é dar a mamadeira enquanto ela ainda dorme, assim, alimentada, ela pega no sono novamente. Não posso deixar de sorrir ao lembrar que você brincava, dizendo que gostaria também de receber um leite quentinho numa manhã fria de domingo ainda dormindo...
Meu coração volta a doer, na casa só há vazio e o canto dos pássaros... olho sua foto sorrindo no descanso de tela do celular, a mistura de amor e ternura dentro de mim se confunde com dor, tristeza e raiva! Quero você comigo, não posso aceitar!
Aquele desespero do primeiro amanhecer sem você volta na mesma proporção...
Levanto-me, coloco a água para esquentar no microondas, 46 segundos, como você me ensinou. Enquanto isso, corro ao banheiro para fazer xixi, mas sou interrompida por um choro sentido que corta meu coração: Júlia acordou sozinha no quarto... está assustada. Vou até lá, explico que estou fazendo a teté... ela me olha e pede colo, não posso dar, pois uns dos braços estão engessados, preciso ainda terminar a mamadeira. Deixo nossa filha chorando baixinho com medo de me perder também...
Volto à cozinha e acrescendo o leite à água enquanto ouço um chorinho fino e agudo capaz de despertar uma força sobre-humana!
Enfim, entrego-lhe a mamadeira e ela num movimento de minhoquinha desliza sobre o travesseiro - como você ensinou e me acordou inúmeras vezes todo orgulhoso e feliz me mostrando como nosso bebê crescia - para mamar. Eu troco a fralda e entrego-lhe a chupeta. Deito-me ao lado dela e lhe mostro a sua foto... ela olha e sorri, esperando que você faça alguma gracinha...
Eu digo: - bom dia, papai! E complemento: esse é o nosso amor, a nossa vida!
Choro baixinho, para não despertá-la.. Ela enrola o meu cabelo e adormece novamente.
Pronto, mais um dia começou... não tenho vontade de sair da cama. Suas coisas estão em uma caixa sobre a mesa do escritório. Preciso mexer, separar, ver se há algo importante... mas só me importa ficar aqui... fingindo com todas as forças que você vai chegar, me abraçar e dizer que me ama!
Vou pedir para você me mandar mensagem as 9h para que eu não perca a academia...
A sensação é sempre a mesma, a princípio meu coração pára por alguns segundo tentando absorver mais uma vez a realidade... é confuso. Demoro para acreditar que você não está no banho ou preparando a mamadeira da Júlia. Percebo que estou sozinha, nossa filha resmunga ao meu lado... sei que ela está com fome, vai acordar em breve. Lembro-me claramente de você me falando: - o segredo é dar a mamadeira enquanto ela ainda dorme, assim, alimentada, ela pega no sono novamente. Não posso deixar de sorrir ao lembrar que você brincava, dizendo que gostaria também de receber um leite quentinho numa manhã fria de domingo ainda dormindo...
Meu coração volta a doer, na casa só há vazio e o canto dos pássaros... olho sua foto sorrindo no descanso de tela do celular, a mistura de amor e ternura dentro de mim se confunde com dor, tristeza e raiva! Quero você comigo, não posso aceitar!
Aquele desespero do primeiro amanhecer sem você volta na mesma proporção...
Levanto-me, coloco a água para esquentar no microondas, 46 segundos, como você me ensinou. Enquanto isso, corro ao banheiro para fazer xixi, mas sou interrompida por um choro sentido que corta meu coração: Júlia acordou sozinha no quarto... está assustada. Vou até lá, explico que estou fazendo a teté... ela me olha e pede colo, não posso dar, pois uns dos braços estão engessados, preciso ainda terminar a mamadeira. Deixo nossa filha chorando baixinho com medo de me perder também...
Volto à cozinha e acrescendo o leite à água enquanto ouço um chorinho fino e agudo capaz de despertar uma força sobre-humana!
Enfim, entrego-lhe a mamadeira e ela num movimento de minhoquinha desliza sobre o travesseiro - como você ensinou e me acordou inúmeras vezes todo orgulhoso e feliz me mostrando como nosso bebê crescia - para mamar. Eu troco a fralda e entrego-lhe a chupeta. Deito-me ao lado dela e lhe mostro a sua foto... ela olha e sorri, esperando que você faça alguma gracinha...
Eu digo: - bom dia, papai! E complemento: esse é o nosso amor, a nossa vida!
Choro baixinho, para não despertá-la.. Ela enrola o meu cabelo e adormece novamente.
Pronto, mais um dia começou... não tenho vontade de sair da cama. Suas coisas estão em uma caixa sobre a mesa do escritório. Preciso mexer, separar, ver se há algo importante... mas só me importa ficar aqui... fingindo com todas as forças que você vai chegar, me abraçar e dizer que me ama!
Vou pedir para você me mandar mensagem as 9h para que eu não perca a academia...
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