terça-feira, 4 de abril de 2017

Meu bem, há coisas que só podem ser planejadas por você para saírem assim tão perfeitas...
É sábado, pela primeira vez estou sozinha com os dois em casa, pensei que fosse enlouquecer, que não daria conta, mas encarei como venho fazendo com muitos desafios diários. Júlia acordou cedo, antes das 7h, Bruno já estava com os olhos aberto antes das 6h... eu? Não sei dizer quantas horas dormi, você deve lembrar como é ter um bebê em casa; a gente dorme se der, de olhos abertos,e só come se colocarem na nossa boca... enfim, começamos o dia, sem que eu ao menos conseguisse ir ao banheiro ou escovar os dentes. Trocar de roupa? Ah, isso é artigo de luxo nessa altura do campeonato...  Enquanto Bruno mamava repetidamente, consegui sentar Juju no cadeirão e lhe servir o café da manhã. Com uma mão apenas coloquei a cafeteira para funcionar sem saber se conseguiria tomar o café...
Bruno não consuma dormir pela manhã, tem cólicas neste horário e passa o tempo todo no colo... mas hoje foi diferente, ele dormiu o suficiente para que eu tomasse café, varresse casa, cuidasse da Ju e até colocasse roupa no varal. Enquanto isso, Juju assistia à Peppa pela milésima vez... reparei que ela decorou algumas falas e as reproduz no momento exato junto com os personagens... achei graça e imaginei você comigo, sua reação, sua alegria em ver nossa pequena crescida, esperta... Bruno chorou exatamente no momento em que terminei as atividades mais urgentes. Hora do banho, sozinha, eu tenho que pensar num jeito de tirá-lo da banheira e enrolá-lo  na toalha... fazíamos isso juntos, lembra? Eu dava o banho e te entregava Júlia... você a levava para o quarto com toda a segurança e conforto que só você era capaz de nos proporcionar...
Foi um pouco tenso, Bruno chorou, precisei trocar a água da banheira no meio do banho, Júlia corria pela casa ou tentava subir na banheira para me ajudar...
Depois desse sufoco todo fui para o quintal para gastar a energia da Júlia... enquanto ela brincava, eu pensava em como seria preparar nosso almoço... consegui, Júlia comeu, eu comi em pé, enquanto ninava Bruno...
Eu estava a ponto de enlouquecer, quando Bruno enfim dormiu e Júlia também pediu colo. Coloquei um no berço e peguei o outro... não acreditei quando percebi que os dois dormiam... eu poderia tomar um banho, escovar os dentes ou dormir também... mas pensei  em você, senti saudades, vontade de te contar tudo o que aconteceu nestes últimos meses... eu sei que você está conosco, mas ainda assim quero te contar, preciso conversar com você. É como se você me respondesse... eu chego a ouvir sua voz.
É nessas horas que organizo meu pensamento, reflito sobre a vida ou tento achar respostas. É bem verdade que ainda não tive a resposta que procuro, mas encontro pistas de que não estou sozinha, que há um universo que funciona em sintonia, há algo divino que ordena e reordena as coisas.
Recentemente fui ao INSS, dar entrada na licença maternidade. A sensação de estar sozinha sempre me acompanha nessas horas, sem Júlia, sem Bruno, sem você, mergulho numa sensação de angústia, de certeza de que o mundo é uma grande armadilha...
Sentada, esperando minha vez no atendimento, reparei em uma atendente: uma senhora, com fisionomia fechada, cara de poucos amigos como costumam ser muitos funcionários públicos que ocupam o cargo por longos períodos. Olhei para minha senha e desejei não ser atendida por ela. Para minha infeliz (ou feliz) surpresa, percebi que meu desejo não se realizaria quando o monitor mostrou o número do guichê de meu atendimento. Levantei-me rápido e caminhei apressada com medo de ser repreendida por demorar. Sentei-me à sua frente, mas tive medo de encará-la. Ela não sorriu, apenas me fez perguntas secas enquanto buscava informações sobre mim no computador. Enquanto isso, reparei que ela usava uma aliança na correntinha do pescoço. Entendi que ela era viúva e me perguntei há quanto tempo.
Seria esse o motivo da tristeza e frieza que eu via em seu olhar?
Não demorou para ela me mostrar que eu estava errada a seu respeito. Ao pedir ajuda a um colega para resolver o meu caso, ele sugeriu que eu seria aposentada, mas ela prontamente o corrigiu e acrescentou um infelizmente. Ela me olhou nos olhos e me pediu desculpas.
Eu não sabia, mas em seus arquivos está toda a nossa vida. Ela sabia a minha história, não em detalhes, mas reconhecia a minha dor, sabia o que era necessário. Me contou sobre sua perda, me fez rir e chorar, me fez refletir e perceber que nossos olhos não são capazes de enxergar o que de fato importa. Nossa conversa foi uma das mais reconfortantes que tive nos últimos 5 meses, e foi com uma desconhecida, alguém que entendeu meu coração e conversou com minha alma. Ela não sabe, mas eu saí dali um pouco menos triste e mais forte que entrei, com a sensação de que aquele encontro foi providencial e que eu não estou sozinha como acreditei. Ali no INSS, foi a Verinha que me serviu de apoio, mas existem tantos outros amigos, conhecidos, desconhecidos que me amparam em momentos de desespero que eu só posso acreditar que você está comigo, usando as pessoas e colocando apenas as certas no meu caminho. Deve dar trabalho rearranjar e ordenar o caos para me ensinar, me consolar, mas acredite, se há um propósito para tudo isso que estamos passando, eu vou descobrir e vou fazer valer a pena. Você vai ver, eu vou te rever!

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