sábado, 25 de fevereiro de 2017

Meu bem, tenho tanta coisa para te contar! Olhei suas fotos, recordei momentos nossos. Pela milésima vez duvidei, não acreditei... será que estou presa num pesadelo?
Meu coração se acostumou a sentir dor, há uma angústia que me consome, me tira a fome, o sono, o brilho... mas como se eu estive numa guerra, preciso seguir. Júlia está começando sua história, precisa de incentivo, eu preciso ajudá-la, mostrar a beleza da vida para ela. Nosso pequeno está lutando para viver fora de uma incubadora,  eu preciso lutar com ele, muitas vezes por ele... eu vibro a cada melhora que ele apresenta, mesmo que seja mínima...
A vida tem um jeito irônico de nos ensinar. Ali, debruçada sobre a incubadora, ouvi e presenciei muita coisa... vi histórias como a nossa... vi casais felizes, unidos, enfrentando juntos a dor de ter um filho já Uti... ouvi crianças chorarem, um choro sentido de cortar o coração... vi bebês terem alta, vi bebês terem recaídas, vi pais desesperados... vi amor, cuidado e, acima de tudo, vi pessoas dispostas a ajudar...
De onde estou vejo um casal, eles estão com uma das mãos em seu bebê enquanto entrelaçam a outra sobre a incubadora. Eles se olham nos olhos, não dizem uma palavra sequer, mas o amor emana deles, há tanta cumplicidade naquele olhar, como se um dissesse para o outro: eu estou com você independente do que aconteça... eu sinto mais ainda a sua falta nestes momentos!
Volto meu olhar para nosso filho. Tão frágil, tão pequeno, tão novo! 32 dias de vida tão intensos! Me pego contando seus dedinhos da mão... ele é tão perfeito! Penso em você! Me vem à cabeça o dia que descobrimos que teríamos um menino! Meu bem, é tão diferente de ter uma menina... não é pior nem melhor, mas muito diferente! Você precisava ter experimentado isso...
Meus pensamentos continuam. Lembra do tênis que te dei? Você amou tanto que calçou na mesma hora e guardou o velho na caixa. Eu me apaixonei por você ali. Ou pelo menos percebi isso ali. Era fácil te agradar, te fazer feliz. Lembro-me das nossas despedidas na frente do alojamento à noite com o Freddie Mercury nos observando de longe. Sorrio perdida nas lembranças sobre nós, sobre você...
Você foi um anjo que passou pela minha vida para me ensinar. Com você aprendi tudo que importa de verdade.
Sinto sua falta, mas não estou só, você segue comigo e é para sempre.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Hoje eu só queria voltar no tempo. Sentir sua proteção, ver você tomando as melhores decisões, recorrer a você nas horas de desespero... eu sei, eu sou muito dependente de você... mas o amor é assim, nos torna um só mesmo quando somos obrigados a seguir sozinhos.
Eu te amo, meu bem e sou grata pelo tempo que fomos um só. Eu faria tudo de novo, exatamente igual. Eu não fui a mulher mais feliz do mundo, mas posso dizer que fui uma das mais com certeza, porque tive você, ainda tenho e terei para sempre...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

É, meu bem, eu estava errada. Muito errada! Eu ainda tenho o que perder... as coisas podem sim ficarem piores. Tremo só de pensar...
Nosso pequeno precisou ser internado, eu precisei mais uma vez ser forte e tomar decisões sozinha...
Foi novamente em um sábado, ele não dormiu bem, não mamou a noite e amanheceu abatido, prostrado, pálido. Corremos para o hospital e 1 minuto de atraso teria lhe custado a vida. Nosso bebê parou de respirar, ficou cansado, precisou de ajuda para seguir, foi entubado... Ele é forte, vem enfrentando ao meu lado tantas dores, tantas provações que eu até me esqueci do seu tamanho, da sua prematuridade... mas ele me lembrou que eu preciso também ajudá-lo, ele chegou ao limite depois  de ser tão  guerreiro! Nasceu antes do tempo por mim, para me ensinar mais amor, mostrar que há esperança, mas também para me mostrar que eu ainda posso perder, que eu tenho riquezas e que preciso agradecer por isso.
Eu estou agora em casa com Júlia agarrada  em meus cabelos enquanto penso em você, nele, meus Brunos! Ele ficou no hospital, mais uma vez voltei para casa sem meu bebê nos braços. Deixei-o com anjos, deixei-o sob os cuidados de Deus e Maria. O quadro é grave, mas estou confiante, não admito outro fim, sem ser trazê-lo para casa feliz e gordinho. No meio de tanta dor, descobri que ele tem o meu sangue (A+)... algo meu! Júlia tem meus olhos, Bruninho o meu sangue, mas o resto é seu! E eu sou imensamente grata a Deus por nossos filhos serem tão parecidos como você! Eles são presentes seu para mim, você os deixou para que eu não enlouquecesse, para que eu tivesse que seguir... por isso eu imploro, meu bem, esteja conosco, cuide do nosso pequeno, me ajude a ser forte, cochiche no meu ouvido o que devo fazer... volta para mim nem que seja em sonho...

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Ah meu bem,
Tem dias que a saudade aperta mais no peito. Tem dias que a dor nos consome, tem dias que a vontade de chorar sobra e os motivos para sorrir desaparecem, tem dias que quero desaparecer, parar, simplesmente desligar... hoje é um desses dias. Final de semana se aproxima, não há nada bom nisso, só tristeza...
Eu só sei pensar em você, na falta que me faz... nos faz!
As coisas continuam tensas por aqui. Deus tem me testado, me levado ao limite... tenho me perguntado muitas vezes qual o propósito Dele para mim... mas do mesmo jeito que vêm as provações, vem também força e ajuda que recebo de muitos amigos.
De repente, a vida é isso, um constante ganhar e perder...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Júlia fala papai com tanta alegria e espontaneidade, meu bem... não há tristeza nela, talvez saudades...
Eu sinto uma pontada no peito cada vez que ela te chama, te aponta nas fotos, sinto por você não poder ouvir, não poder responder. Por outro lado, fico feliz porque ela não te esqueceu mesmo sendo tão pequena, ela poderá ensinar ao seu irmão o valor desse amor, a lembrança de um pai maravilhoso... por isso, mantenho a nossa casa como sonhamos e planejamos, talvez cause estranheza em alguns, mas foi a forma que encontrei de te manter vivo para eles. Em mim você vive e viverá para sempre, independente de onde eu esteja, mas eles precisam construir suas lembranças... e eu não vou medir esforços para te apresentar a eles.
Te amo hoje e sempre, mais que ontem e menos que amanhã...

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Meu bem,
Acordar dói, dói demais, meu Deus. Dói fisicamente perceber  todos os dias a sua ausência... é pela manhã que revivo toda a tragédia que se abateu sobre nós, é pela manhã que me dou conta de tudo aquilo que perdemos, é pela manhã que sinto pena dos nossos filhos, por tudo que eles não viverão, não aprenderão sem você... é pela manhã que sinto raiva disso tudo e desconfio da existência de Algo Maior... como posso acreditar diante de tudo isso? Sua família sofre muito com sua ausência, meu amor. Quero acreditar que vai ficar tudo bem, mas pela manhã é cedo demais... sempre será! Jamais superarei, jamais seguirei, jamais...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Ei, meu bem!
Estamos aqui na nossa cama, nós 3. A noite não foi fácil. Alternei as mamadas da madrugada com as crises de tosse da Júlia. Amanheceu cedo, às Júlia já estava de pé, Bruno dormia. Eu, exausta, só queria fechar os olhos por meia hora... não deu. Até as 8, Júlia aprontou, eu pensei seriamente em perder a paciência, reclamar meu cansaço, mas de repente ela pediu colo e dormiu...
A vida tem sido assim, quando estou prestes a surtar, no meio do caos, da dor e da saudade, alguma coisa dá certo e eu volto a acreditar que darei conta, que terei força...
São 10h, ainda não levantei. Apesar de ter implorado para que Júlia dormisse, não consegui descansar. As preocupações tomaram conta do sono... Bruno está resmungando no meu colo. Ele é tão bonzinho que posso contar nos dedos as vezes que o vi chorar. Deve ter herdado o seu gênio... também posso contar nos dedos as vezes que te vi chorar ou reclamar, não enchem uma mão sequer.
A dificuldade por aqui está sendo fazê-lo mamar, ganhar peso e controlar as peraltices da Ju. Ela sente ciúmes, sente minha falta, sente a sua também. Ela chama por você quando vê sua foto, suas roupas ou qualquer outra coisa que te lembre. Eu fico meio sem saber o que dizer, não admiti nem para mim que acabou, que você não vai voltar, que a vida segue sem você... não tenho palavras para acalenta-lá quando quem precisa de acalento, de conforto sou eu...
Não fui tão forte quanto gostaria, precisei ser medicada, mas o remédio não tira a dor, não diminui a saudade, ele apenas me permite respirar...
Acabo de perceber que nossa ajudante ainda não chegou... o dia vai ser agitado por aqui, mais que  o normal... mas vou acreditar que você continuará comigo, vai ajeitar as coisas quando eu não puder mais dar conta, como tem feito todo esse tempo...
Um dia, quem sabe, nós vamos conversar e você vai poder me explicar porque tivemos que passar por isso sozinhos, separador...

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Hoje precisei sair, voltar ao médico, ir à farmácia, supermercado... deixei nossos dois pequenos dormindo e fui com o coração em pedaços. Fui pensando em você, meu bem, fui imaginando como seria diferente se estivéssemos todos juntos. Provavelmente, nós estaríamos organizando o aniversário da Juju e o chá de bebê do Bruno. Ele não teria nascido, você não teria deixado... talvez estivéssemos pensando em fazer algumas fotos, ou quem sabe planejando viajar no carnaval... eu estaria bem barriguda, pesada e feliz sendo paparicada por você enquanto eu paparicava a Juju... sonho? Sim, agora não passa de um sonho, mas já foi real, já foi nossa vida...
Na volta para casa, corto caminho pela praça da cidade que também é conhecida como Jardim. Estamos no meio da tarde, o sol está a pino, mas há muitas pessoas sentadas nos bancos, conversando calmamente... alguns tomam sorvete, outros mexem no celular, mas um casal me chamou a atenção. São novos, estudantes ainda. Eles tomam sorvete e namoram sem pressa. Quando passo por eles vejo que ela tem uma rosa vermelha no colo. Talvez estejam comemorando uma data especial. Eu senti a felicidade emanando deles... uma cena tão simples...
Quis me aproximar, sentar e alertá-los, eu queria dizer, a felicidade é isso, são esses momentos. Não queiram mais, não exijam mais... por que no fim, é isso que importa, momentos como esse que ficam na lembrança.
Mas como não queria passar por louca, apenas olhei-os com uma pontinha de inveja, lamentando por não sermos os atores daquela cena...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

4 meses sem você e seu sorriso continua me iluminando... olho para a sua foto, penso em você, lembro-me de nossas conversas, dos seus cuidados... dói meu peito! Sinto sua falta, meu bem! Como faço? Nada se resolve, estou numa baita enrascada sem você... por vezes, muitas vezes tento levantar a cabeça, olhar para frente, pôr um sorriso nos lábios... em vão! Tudo fica cinza num piscar de olhos.
Eu pensei que me mudar, trocar de ares, fazer uma nova rotina fosse melhorar as coisas. Doce engano, aos poucos estou entendendo que não posso fugir do que eu sinto, meu coração será o mesmo por onde eu passar. Com o tempo, as dificuldades estão surgindo, os desafios ficando mais duros... há muitos dias que não tenho podido parar, refletir, chorar, escrever, me encontrar...
Os últimos 18 dias foram intensos! Teriam sido  muito difícris com você ao meu lado, sem você, sinceramente, não sei como consegui. Eu não sei como vou conseguir seguir, está duro demais viver um dia de cada vez, viver com dor há 120 dias! Não vejo saída, eu tento ser otimista, eu faço planos, mas quando chega a hora, dá tudo errado, eu perco o controle... eu penso em você, eu imploro por você!
A verdade é que você me falta como o ar falta para as pessoas, a verdade é que quem mais sente a sua falta neste mundo sou eu, o mundo perdeu a graça... a sua graça, a sua doçura, a sua educação e elegância, a sua bondade, o seu amor... e eu? Perdi a alegria, a esperança, a vontade...
Mesmo sabendo que não há jeito, eu continuo querendo fugir, ir para longe, tão longe quanto seja possível... vontade de me ver sumir no horizonte como acontece com os barcos no oceano... eles simplesmente desaparecem... aos poucos, sem serem notados...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

E se no meio disso tudo, meu amor, eu só sentir vontade de chorar? E se o mundo girar muito rápido, tão rápido que eu não possa mais falar sobre você com as pessoas? E se eu tiver muito medo? E se eu não souber o que fazer? E quando eu não mais tiver o que fazer? E quando a saudade for tão grande que eu precise gritar? E se eu errar? E se eu não quiser mais viver? E se eu viver até ficar velhinha sem você?  E se eu não souber educar nossos filhos? E se eu me fechar, me trancar, amargar? E se eu nunca mais sorrir? Mas a pior delas, a que me tira o sono, o ar, o chão, a razão.... e se eu não puder te reencontrar?
Hoje, meu bem, num intervalo entre as mamadas, dei um pulo em casa para ver a Júlia. A saudade que sinto dela é enorme, machuca pensar que ela possa estar achando que me perdeu ou que eu não vou voltar... encontrei-a animada, feliz, brincando com Arthur... ela é tão espontânea, tão moleca! Cada dia se parece mais com você...
Peguei-a no colo um pouco, mas não demorou muito até que ela quisesse descer... fui com eles até a piscina, fiquei observando-os um pouco... tanta alegria! Como é bom ser criança...
Meu coração continua com o mesmo aperto de saudade... se estou com Júlia sinto falta do nosso Bruno. Se estou com Bruno, sinto falta de Júlia... ultimamente meu coração é só saudade...
Não me demoro muito, preciso correr é hora de amamentar... no caminho, passo por lugares que eu frequentava antes de te conhecer, na minha adolescência.
Consigo sentir até os cheiros das lembranças... meu coração está inquieto como era naquela época... eu costumava sentir frio na barriga, uma constante falta...
Volto no tempo, lembro-me de me sentir vazia, incompleta... eu sentia angústia, buscava por algo sem saber o quê... estava sempre faltando. O fim da tarde vinha sempre trazendo inquietude ao meu coração... um dia eu conheci você! E todo esse vazio se preencheu... eu fui plena, completa! O fim de tarde era o melhor horário, pois você chegava e espantava qualquer medo, qualquer tristeza, qualquer angústia...
Agora estou aqui, como se tivesse voltado 12 anos no tempo... e isso é péssimo! Aquela mesma angústia dos dias iguais voltou a tomar conta de mim...
Hoje, entendo, você era o que me faltava... você é a única coisa que me falta...

sábado, 4 de fevereiro de 2017

É tarde, meu bem. É minha segunda noite a sós com nosso pequeno. Ainda estamos no hospital, faz 11 dias que ele chegou... mas só ontem ele veio para mim para nunca mais me deixar... eu vejo você nele muito nitidamente! É como se uma parte de você tivesse renascido e voltado para mim.
Ele dorme agora, eu estou do seu lado checando sua respiração. Cochilo por segundos e acordo assustada para ver como ele está, vez por outra meu coração recebe golpes de saudades da Júlia. Penso nela sem mim, penso em tudo que precisei reprogramar e em muitas outras coisas que não pude planejar, simplesmente aconteceram, como o nascimento de Bruninho.
Penso em como nós programamos até as nossas memórias, como seria, o que faríamos... dói ter saído desse mundo, dói ter que enfrentar tantos imprevistos, dói viver um dia de cada vez, dói a sua falta em cada detalhe do dia... dói pensar na falta que nossos filhos sentirão de você, mas dói muito mais a falta que eles fazem a você...
Desde que ele chegou, inesperadamente, eu comecei a enxergar um pontinho colorido ao meu redor, nossos filhos são a cor vibrante no meio de um oceano cinza... o cinza dói, foco na cor e assim venço mais um dia....
Já já é hora de amamentar novamente, preciso cochilar para ver se meu leite volta...
Enquanto isso, você podia bem fazer carinho na minha cabeça, ela está tão pesada, tão cansada...