Eu sinto...

A cada ano eu tenho a sensação de que será mais fácil. De fato é, mas ainda assim é difícil, é muito difícil!

Eu já não falo mais sobre esse sentimento com as pessoas, eu achei que não mais iria escrever aqui, mas foi aqui que me curei, foi aqui que consegui juntar cada trapo de sentimento e costurar um colcha que se tornou, apesar de tudo, bonita, resistente e aconchegante. E é para cá que eu volto quando meu coração resolve se inquietar à sua procura.

Eu queria que você soubesse que a dor não é mais insuportável, mas que não há um dia sequer que eu não pense em você e na falta que você nos faz. Eu ainda choro no banheiro. Distraída, eu ainda vejo você vindo em minha direção e sinto meu coração se alegrar de uma forma que seria impossível explicar. Nos meus sonhos, eu ainda te busco para almoçar e sinto um orgulho danado quando você se aproxima do carro com aquele andar seguro e olhar calmo. Eu ainda escuto você me responder lá de dentro "o que seria de você sem mim?" quando eu esqueço de trazer a toalha para o banho. Eu ainda não sei essa resposta... mas eu gostaria que soubesse que eu estou tentando, e tenho conseguido pequenas grandes vitórias. 

Eu queria te contar que nossos filhos estão crescendo exatamente como sonhamos. São crianças amadas, felizes e muito curiosas. Eles sentem a sua falta obviamente, mas não sofrem. Eles falam de você com muito orgulho. Não se engane! Eles te conhecem melhor do que muitos filhos que moram na mesma casa com seus pais. Eles sabem que você foi um ponto fora da curva, conhece suas histórias e te amam muito.  Quando eles sentem saudades, deixam algumas lágrimas cair, mas sabem onde te procurar. E você sempre está lá, numa foto, num livro, num áudio gravado como se soubesse que iríamos precisar te ouvir. 

Eu queria te dizer tantas coisas, contar cada detalhe do meu dia, rir das situações mais adversas em que eu ainda me meto. Mas o que eu mais sinto falta e de poder segurar a sua mão no fim de um dia bem cansativo, olhar as crianças dormindo com aquele sensação de orgulho, amor e sensação de missão cumprida que acomete os pais antes de dormir e saber que estamos no caminho certo. 

Eu sinto falta de ser a mãe que você me permitia ser. 

Eu sinto falta de poder dividir com você não as tarefas do dia a dia, mas as alegrias da vida. 

Eu sinto...

Despedida

Não sei se estou fazendo as coisas da forma correta. Não sei você sentiria orgulho da forma como conduzi tudo desde a sua partida. Precisei tomar tantas decisões, algumas difíceis, outras mais fáceis. Não sei se feri alguém, se fui egoísta, mas em todas as minhas ações  você foi minha principal motivação, meu ponto de partida e também meu ponto final. Apesar de você não estar mais na linha de chegada me esperando como eu gostaria, sei que a vida é feita de incontáveis inícios e fins e que quanto mais se vive mais será necessário recomeçar.

Infelizmente, este novo recomeçar da minha vida será sem você. Você viveu e morreu dentro da minha história, quando nasceu, eu já existia há 11 meses e 13 dias neste mundo. Demorei 20 anos para te encontrar, 3 anos para me apaixonar, 3 meses para te namorar, 4 anos para te aceitar como esposo. No dia 19/07 de 2008, 4 dias antes do seu aniversário de 27 anos, te entreguei minha vida e acreditei estar segura até a eternidade. No dia 08/10 de 2016, você partiu sem se despedir, sem me preparar, mas sem deixar nenhuma pendência sequer. Fez tudo que era importante fazer, cumpriu ao máximo a sua teoria de fazer primeiro, descansar depois. 

É verdade que descansou pouco, mas fez muito! Fez amigos, fez história, fez carreira, fez diferença, fez caminhos, criou, testou e comprovou teorias, fez filhos, plantou muitas árvores, viajou por quase todos continentes, não escreveu um livro, mas escreveu uma linda história de vida. Mais que isso, viveu uma vida cheia de conquistas, batalhas, alegrias, superação e muita felicidade. Deixou a vida no melhor momento, fechou a cortina no auge da realização pessoal e profissional. Deixou amor, deixou muita saudade. 

Eu? Fiquei perdida, fiquei com raiva, fiquei louca, fiquei muda, fiquei sem vida... até que foi preciso brigar pelos nossos, hoje já consigo brigar por você, consigo até brigar por mim. E ouço você soprando no meu 

ouvido: Vai! Solte  a minha mão, você já consegue fazer sozinha, eu vou estar do outro lado da vida te esperando. Mas até lá, viva como eu vivi, com pressa de fazer, com sede de aprender, com loucura por viajar, experimentar, conhecer, voar...

Eu te escuto. Preciso encerrar este capítulo da minha vida sem você, para conseguir me preparar para um novo recomeço, um reencontro. Não te deixo, encerro mais essa etapa terrena. Te trago no coração, nossos filhos te carregam nos genes, te carregam no olhar, no gênero, na inteligência, e acima de tudo, no coração. Você continua conosco. 

Se demorei 20 anos para te encontrar, posso esperar mais 20 para te reencontrar em outro plano, em outro sonho, em outras circunstâncias, mas como o mesmo amor...

Até a eternidade, meu bem.

É meu bem,
Um belo dia a gente decide que o papel de vítima não nos cai bem. A gente olha a vida ao redor e decide que não mais irá dar combustível às dores da alma. A gente se liberta do coitadismo, decide que quer ter outro papel no teatro da vida. Neste dia a gente se liberta do “melhor amigo” que nunca mais ligou, da saudade de tudo que não viveu, de tudo que poderia ter sido, da beleza que nos foi roubada, dos sorrisos apagados nas fofos....
Mas aí a gente acorda no dia seguinte e percebe que a dor ainda está lá, apesar de você ter mudado, apesar de você ter se tornado outra pessoa.
O amor é imutável, a dor também...

Oi Jesus,
Sei que posso parecer insubordinada, desrespeitosa, abusada até. Mas a vida andou me pregando algumas peças cujo enredo não tem nenhuma graça. Muitos, quase todos que conheço, dizem que você, quer dizer o Senhor, sabe de todas as coisas, que você borda nosso destino e embora possa parecer rabiscos grotescos aos nossos olhos agora, um dia poderemos contemplar a beleza e maestria da sua obra de arte por completo.
Eu tenho me esforçado para crer nisso. Eu tenho orado de todo o coração para que você me ouça, eu tenho tentado ser melhor a cada dia, eu tenho me esforçado para ser uma boa Mãe, boa filha, boa irmã, boa amiga na esperança de poder contemplar sua obra por inteiro.
Mas no fundo do meu coração eu sinto que não mereço sua resposta. Mais que isso eu não tenho certeza de que há uma razão para tudo isso aqui na Terra. Por favor, não me entenda mal, eu gostaria muito de ter a certeza de que um dia poderemos no encontrar face a face. Seria maravilhoso, seria o final perfeito para todas as minhas angústias.
Mas se fui criada por suas mãos, você deve saber que sou inquieta, que sou curiosa, que sou desconfiada, que sou cabeça dura demais. Obviamente, se tudo que há na Terra foi feito segundo a sua vontade, eu fui feita assim por algum propósito Seu. E eu gostaria de colocar aqui a minha indignação: por que me fizeste tão desconfiada, se tudo que me pedem aqui é confiar, acreditar, esperar em Ti. Não me soa justo, assim como tantas outras coisas que parecem estar fora do lugar por aqui.
Dessa forma, levando conta o estado do meu coração, peço gentilmente que se não puderes mudar os pontos do bordado da minha vida, mude minha essência. Me refaça! Preciso crer! Amém!

Sempre e para sempre

Ainda que eu vivesse eternamente, ainda que todos os meus sonhos se tornassem realidade, ainda que eu pudesse sorrir com a alma leve novamente; quando eu pensasse no amor, é você que me viria a mente. Sempre e para sempre!

Encontros, desencontros, reencontros, chegadas, partidas, despedidas, separação...
Talvez a vida se resuma a isso! A separação é inevitável! Para começar, sem ela, sequer nasceríamos...
É nascendo que inicia a nossa história com a perda, com a dor da despedida e separação, e o que se segue é uma sequência delas: para nascer, nos despedimos do conforto do útero, do calor e da proteção da barriga de nossa Mae; ainda muito pequenos nos despedimos de nossas fantasias, dentre tantas coisas, descobrimos que papai noel não existe, que coelhos não botam ovos, que os bebês não são trazidos por cegonhas; depois, nos despedimos do nosso primeiro professor, dos nossos primeiros colegas de turma, do primeiro amor... sofremos a cada separação, até que a repetição  do mesmo ritual, ano após ano, faz parecer normal, comum. Nos despedimos da infância, da ingenuidade; deixamos de acreditar que nossos pais são heróis, até o dia que nos separamos de fato deles, vamos embora, construímos outra família e voltamos a acreditar que eles são sim, heróis! Nos despedimos de nós mesmos quando vêm os filhos, nos despedimos de amigos, empregos, casas, cidades, costumes...
Em todas essas despedidas, nos separamos de algo de julgávamos, por momentos, ser impossível... ainda assim, nos prendemos ao hoje como eterno.
Embora haja  tanta separação, nunca estamos prontos para nos despedir de fato, separar-nos de quem ou o que amamos. E aí vem a pior das separações, a última: a morte. Quando nos deparamos com ela, descobrimos, do pior jeito, que a vida toda estivemos nos separando, dando adeus, indo embora para não enlouquecermos quando o adeus fosse para sempre, quando quem foi embora não pode mais voltar mesmo que não tenha querido partir, mesmo que desse tudo para voltar... entendemos que estivemos sempre treinando para dizer adeus...
A dura penas, entendemos que a separação dói, assusta, magoa, apavora, mas é necessária! Sem ela, não haveria o reencontro...
Para todas as despedidas, um reencontro. Para todo reencontro, um recomeço. Para cada recomeço, a esperança...
Esse é o alimento da minha alma. A esperança do nosso reencontro, do nosso recomeço. Vai ser lindo!

E mais uma vez tentei lembrar! Dessa vez, tentei buscar recordações de uma vida, da minha vida antes de você. Não consigo, não há sobre o que lembrar, é estranho. Vêm  à minha mente flashs da história de uma pessoa que não se parece nada comigo.  É como se minha vida tivesse começado só depois de você ter entrado nela.
Da mesma forma, não me reconheço mais depois que você se foi. Sinto falta de mim, sinto falta de você, sinto falta de nós!