Hoje é dia 08, mas eu escrevo por ontem, meu bem. Sábado costumava ser meu dia favorito da semana... eu e Júlia não fizemos nada do que costumávamos fazer com você. Fez muito calor, nos refugiamos em casa. Acordei cedo para organizar as coisas da churrasqueira e suas ferramentas que ainda estavam espalhadas pela área. Fiquei horas olhando os quadros que contam nossa história... cada um foi comprado em uma ocasião especial, mas os mais valiosos são aqueles que nós mesmos fizemos; eles ainda estão sobre a mesa, ainda não me decidi qual será o melhor lugar para colocá-los. A tarde, enquanto Júlia dormia, me ocupei acertando alguns detalhes no quarto dos nossos filhos. Já posicionei os móveis, agora preciso separar e guardar as roupas. Falta também posicionar os quadros, essa era sempre uma atividade que eu delegava a você que executava perfeitamente, por isso é a mais difícil para mim. Nenhum quadro foi fixado na casa, tenho medo de errar e te decepcionar. As tvs ainda não funcionam, estão já na parede, mas os cabos estão todos desconectados. Contratei uma pessoa para fazer as instalações, mas percebi que não vai rolar, ele está mais perdido que eu no manuseio dos aparelhos. Enquanto eu esperava a instalação que não foi concluída com sucesso, pensava em como você teria resolvido tudo em questão de minutos. Prometi para mim mesma que vou aprender a fazer isso. Tenho me esforçado...
Enfim, o crepúsculo do dia chegou, com ele veio toda a tristeza e angústia que causa essa parte do dia. Eu que tinha passado um dia mais sereno, absorta em lembranças, voltei a experimentar a inquietude da alma. Me olhei no espelho, como há muito tempo não fazia, me enxerguei. Vi que meus olhos estão ainda menores, mas o pior foi perceber que estão opacos, falta luz neles. Olhei minha barriga, está enorme... vi as lágrimas escorrerem, senti sua falta, indaguei pela milésima vez o motivo de eu ter que passar por isso sozinha. E estar sozinha, para mim, é estar sem você não importa quem ou quantos estejam ao meu lado. Fui interrompida pela hora, é preciso preparar o jantar da Júlia. Enquanto ela comia macarrão com brócolis e frango, fiquei observando suas ações: comendo com as mãos, assistindo a desenhos, separando a batata doce e a cenoura. Ela mudou, está seletiva para comer, não aceita garfo ou colher... fiquei imaginando como seria se você estivesse conosco, o que você faria, que ideia teria...
Meus Deus, como estou dando conta? Logo eu que me desesperava quando você chegava em casa depois das 9h! Como estou conseguindo há 90 dias?! Me desespero! Hoje eu não quero jantar, puxo uma baqueta para a janela e me sento, olho para o lado e puxo uma para você se sentar comigo, finjo que seguro sua mão, olhamos para fora, imagino as cenas felizes que protagonizaríamos ali, tomaríamos cerveja, vinho, jogaríamos conversa fora, sonharíamos tanto! Com certeza acharíamos lugar para pendurar mais lembranças das viagem que faríamos...
Júlia está acordada do meu lado, me lembrando que mais um dia começou, ela percebe que choro, me abraça... será que ela imagina a importância que tem na minha vida neste momento em especial?
Preciso levantar, preciso me preparar para hoje, também será difícil, será vazio, será sem graça como todos os outros desde que você nos deixou... foi num sábado, foi dia 08, foi uma grande covardia do destino...
A descrença agora é algo maior que tudo! Não há nada! Não ficou nada! Não acredito em nada...
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