segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Meu bem, estou aqui parada, com a tela em branco. Não sei como começar. Desde ontem, dormi sem falar com você direito, estava exausta. Normalmente, eu gosto de dias assim. O cansaço me faz pegar no sono rapidamente. Ontem, entretanto, senti o peso físico de estar sozinha.
Júlia dormiu pouco à tarde e eu passei algumas horas pendurando alguns quadros na parede. Deu muito trabalho como eu imaginava... me muni de trena, lápis, fita, martelo e caixa de pregos. Na primeira martelada Júlia acordou, aí foi aquela confusão: parede rabiscada, quadro rasurado, prego perdido, martelo sendo roubado, trena desaparecida, eu enlouquecida, dedo martelado, suor escorrendo, ela com o bumbum quente e muitos quadros tortos...
No meio dessa loucura toda que tornou minha vida em qualquer atividade que eu tente executar, vi que já era hora de correr para a igreja ou não acharíamos lugar para sentar.
Mais correria! Banho coletivo, porque eu nunca mais consegui tomar um banho sozinha, não acho roupa que sirva tanto em mim quanto nela, procuro na pilha que espera para passar há dias...não dá tempo, veste amassada mesmo... arruma a bolsa, custa achar vaga para estacionar. Estaciono longe, caminho 4 quarteirões com ela no colo, mas acho lugar para sentar na igreja. Ela observa tudo, tira os sapatos e me olha desconfiada...
Mal o padre abre a boca ela começa a gritar de desespero, eu ainda recuperando o fôlego da caminhada, saio da igreja para acalmá-la e esqueço a bolsa com as chaves do carro e sapatos dela com minha sobrinha. Lá fora, ela se acalma, mas eu preciso ficar longe da porta da igreja. Ela quer descer, não pode, está descalço e não permite que eu volte, grita, esperneia. Preciso ter toda calma do mundo para não deixá-la no chão e fugir para longe.
Fico dando voltas na igreja com ela no colo. Não há como ouvir nada. Sento-me no banco da praça, ela para de chorar, mas ainda quer descer, minha barriga dói, minhas pernas também.
Júlia me abraça, eu penso em você, sinto sua falta como nunca! Choro por não poder assistir à missa marcada para você. Rezo sozinha, mas sem muita fé... não tenho tempo, não tenho forças, não tenho ânimo...
Penso em tudo que deixamos para trás, nós dois! Nossa vida era um mar de rosas... penso nos amigos... penso em você! Tudo repetição dentro de mim! Corpo cansado, alma destruída, coração sangrando de dor, saudade que faz meu corpo flutuar, meus pés saem do chão...
A missa acaba, posso voltar para casa. Mas ainda há tanto por fazer... quando termino, Júlia dorme e eu apago as luzes, penso em você. Vejo sua foto, volto a não acreditar. Não pode ter acontecido! Adormeço e pela primeira vez sonho que estamos em casa, e a nossa casa é aqui, não em Telêmaco... a realidade está vencendo o sonho aos poucos... acordo com a sensação de que vivi um sonho com você... será que nossa história existiu? Será que nós existimos? Eu não existo mais...

2 comentários:

  1. UFA! Só de ler deu vontade de pelo menos levar o sapatinho dela pra você!

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  2. Letícia, entendo o seu imenso amor e a sua dor ... tente conversar mais com o Bruninho que está vindo para que ele não absorva tanto sua dor. Tenho orado muito por vocês, pedindo a Deus que lhe ajude e lhe conforte ... que o Bruno possa vir em sonhos lhe trazendo calma espiritual.

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