São 04:33 da manhã. Depois de um dia corrido, um entardecer melancólico, de choro e questionamento, um anoitecer de saudades, eu adormeci sem nem mesmo perceber. Acordei horas depois, minha garganta incomoda, Júlia está resfriada e também reclama... penso em você... levanto-me procuro um remédio, não há nada que eu possa tomar para aliviar a dor e o incômodo... você saberia o que fazer, você sempre soube! Choro de saudade... sem consegui dormir, relembro o meu dia. Júlia fez tanta gracinha, está tão esperta! Riu a valer, correu, apertou e chamou pela Babi incontáveis vezes. Descobriu uma nova posição para acomodar-se ao cadeirão de alimentação (você iria surtar de preocupação), mas ela só come se for desse jeito! Está geniosa, não aceita ser contrariada. Não sei a quem puxou, mas você sabe muito bem...
Minha barriga ficou dura várias vezes, nosso pequeno pula e passeia por ela que está enorme!
Júlia tomou banho comigo e adorou, mas eu passei aperto... pensei em você de novo e em como tudo teria sido diferente. O cansaço seria o mesmo, mas teria sido muito mais fácil, a alegria e a descontração estariam conosco, o final do dia seria nosso. Eu e você ainda teríamos ficado grudadinhos por um longo tempo, antes de irmos e nos deitar e dividir, com muita alegria, nossa cama com a Júlia.
Espero ansiosamente pelo tempo que cura, mas ele só maltrata meu coração de saudade. Essa palavra de repente ficou pequena para descrever o que sinto... um estado de torpor toma conta de mim. A sensação de estar fora do corpo ainda persiste, a verdade e a realidade ainda me fogem...
Tento, em vão, pegar no sono. Sinto raiva da vida, sinto raiva de mim, sinto raiva do mundo. Sei que não adianta, mas é inevitável. Penso nas pessoas e em como para elas também é difícil me encarar, olhar nos meus olhos. Muitos desviam o olhar, outros desviam o assunto, muitos não suportam se colocar no meu lugar... sei que estou sozinha nesta dor que é minha, é nossa. Ninguém quer passar por isso nem que seja encarando e dividindo esse sofrimento comigo, salvo pouquíssimos e raros amigos. No geral, querem me ver forte, cabeça erguida, lutando pela vida e agradecendo por estar viva! Viva? Não estou...
Vejo você em cada detalhe do dia, cada decisão minha é cheia de você, cada passo que dou em direção ao futuro dói! Dói demais saber que esses passos ( terei que dar milhões deles) serão solitários, sem sonhos, apenas na inércia da vida como muitas outras pessoas fazem, mas sem felicidade, apenas por estar num fluxo que não pode ser interrompido.
Queria eu poder voltar no tempo, como queria! Viver para trás, e não para frente. Buscar o dia em que te vi pela primeira vez, de camisa xadrez, cabelo espetado, cheio de gel, jogando sinuca no bar do DCE no horário de almoço. Você não me viu, talvez sua memória nem tenha guardado esse dia, mas a minha guardou, talvez para me permitir voltar no tempo e admirar aquele garoto, cheio de sonhos, feliz e decidido que se tornou homem muito cedo e que me permitiu fazer parte de suas conquistas. Naquele dia, eu não sabia que seríamos um só, mas eu senti que você era especial, talvez até demais para mim. Mas a vida me deu você de presente, assim, sem eu pedir, naturalmente, simples e direto como você sempre foi, mas transformou minha vida e me encheu de sonhos. Aprendi a sonhar mais alto, mas acima de tudo a conquistar os sonhos. Em 12 anos, planejamos e construímos uma vida de sonhos. Muitos realizamos juntos, alguns, entretanto, ficaram só para mim... e assim vão ficar, guardamos, esperando por você para que um dia possamos realizá-los, quem sabe em outro plano, outra vida... nossa história não acabou, ela é para sempre, é eterna...
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